O que eu mais temo, nestes tempos que se avizinham, é a desmodernização. Não me refiro à desmodernização das infraestruturas – bem ou mal, os anos que passamos a gastar o dinheiro que aparentemente não tínhamos, serviu para muito autoestrada, muito hospital e muito ecrã de plasma e muito broadband. Estamos todos muito bem equipados e infra-estruturados. A desmodernização a que me refiro é a das mentalidade.
Durante as últimas décadas quisemos ser modernos. Foi com a entrada na, então CEE, que o discurso político começou a falar de modernidade deixando para trás o assunto da liberdade e democracia que eram os tema resolvidos. Ser moderno era a coisa a ser-se, era a ambição para todos, e em todas as áreas da nossa vida, durante os últimos trinta anos. Ser moderno na arquitectura, na decoração, na roupa que se usava, nas conversas que se tinham e nos amigos que se arranjavam, nas viagens, nos carros nos gadgets e até nas relações entre as pessoas.
As empresas modernizaram-se modernizando a sua gestão, as suas identidades, os seus discursos e as suas ofertas. As empresas quiseram ter discursos originais e criativos, quiseram dar nas vistas sendo modernas. Com essa vontade floriram projectos de design, publicidade, fotografia e filme modernos e originais. Foram duas décadas e meia de criatividade.
Mas agora chegou a incerteza e com ela o medo. E quando há medo, há uma retirada para territórios mais familiares — e a modernidade não é familiar, antes pelo contrário —, com medo tornamo-nos conservadores, sem vontade de arriscar de fazer diferente de sermos originais.
Pelo menos desde 2008, que foi o ano em que o nosso mundo começou a acabar, começou a acabar também a vontade de ser moderno, de estar na vanguarda, de ser original. Muitos dos projectos que têm vindo a aparecer desde então nas áreas das artes comerciais, e que têm tido sucesso, têm uma componente bem mais comercial que artística. São projectos conservadores, seguros, e em tudo iguais aos velhos e mais estabelecidos. São projectos que não fazem ondas, que não apregoam o novo e o original.
Ora quando o que é novo não inova, e copia o velho para ter sucesso, é sinal de desmodernização, é sinal que nos retiramos para a segurança do lugar comum. O que não deixa de ser paradoxal, pois fora do comum são exactamente os tempos que vivemos, tempos absolutamente originais e com problemas absolutamente originais.
Este seria o tempo para ser moderno, esta seria a altura de ser criativo e original e deixar o conservadorismo aos que têm medo.
Mas parece que o país está todo cheio de medo.
Pedro Bidarra
(artigo publicado no Dinheiro Vivo a 26 de Agosto de 2011)
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